Calcular curvas de lentes, com precisão.
1 Julho 2019  | Seção: Colunas & Artigos  |  Categoria: Dicas
  
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Artigo Ney Dias / Especialista em Optometria e Contatologia
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Vamos tentar aqui esclarecer aos surfaçagistas e àqueles que desejam estudar os cálculos de curvas de lentes, com maior precisão, alguns segredos que não tem sido divulgados convenientemente (especialmente em certas escolas de óptica), para obtenção dos poderes dióptricos das lentes com exatidão.  Esta matéria não interessa tanto àqueles que se dedicam às vendas, mas não podermos esquecer daqueles profissionais laboriosos que se encarregam da fabricação e confecção das lentes.

Os cálculos ensinados aos novos surfaçagistas, de que uma lente esf. +2,00 diop.  com curva +8,00 diop. no lado convexo e outra curva -6,00 diop. no lado côncavo não são exatos. Trata-se de uma aproximação originada do que se aprende com a óptica geométrica "das lentes delgadas", ou seja, aquelas cuja espessura central é teoricamente 'zero'.

Na verdade este cálculo somente seria correto se a espessura central da lente fosse "zero". Como na prática não existem lentes com espessura central "zero" somos obrigados a pensar um pouco mais e esclarecermos porque os práticos dos laboratórios usam modificar as curvas dos moldes, para mais fracas ou mais fortes,  para que as lentes sejam feitas sem as habituais diferenças de 0,12 etc..

Verdadeiramente se a lente acima mencionada fosse confeccionada em cristal de índice 1,523 com espessura central de 3,4 mm e suas curvas estivessem exatas, pelos calibradores convencionais (calculados pelo índice 1,530), a sua dioptria seria exatamente esf. + 2,11 diop. e não +2,00 como se poderia supor.

Consegue-se uma aproximação inexata, mas o óptico brasileiro não pode ficar desconhecendo o modo correto de como se calculam curvas com exatidão.Na prática do laboratório o surfaçagista apela para as modificações nas curvas, provocando diferenças a mais, na curva côncava ou a menos na curva convexa, até que se consiga o esf. +2,00 desejado.  Quando não dá certo, ele modifica novamente a curva dos moldes, até que seja conseguida a dioptria exata.

Nada técnico. Não acham ?

Para o aluno vivo e esperto, que se inicia no aprendizado, estas diferenças ou "clarinhos? vistos nos calibradores de contraste, não são muito corretos e nada científicos.

Por esta razão devemos aprender como são calculadas as curvas, com exatidão.

Muitas vezes, quando tentamos ensinar estes cálculos aos profissionais que são obrigados a apresentar uma produção quantitativa, ao fim do dia, respondem: "Se fossemos calcular cada lente com esta fórmula não faríamos a produção desejada ao fim do dia". Invariavelmente este argumento afasta o óptico surfaçagista do aprofundamento dos cálculos mais exatos e o "teorema de chutágoras" é então aplicado e usado em grande parte dos laboratórios brasileiros. Evidentemente que a alegação é irreal e por essa razão, o desconhecimento de uma técnica mais elevada permanece.

Para usarmos fórmula para calcular exatamente as curvas, não se usam os valores numéricos das curvas dos laboratórios de óptica porque elas são confeccionadas e calculadas para o índice de refração primitivo, do antigo vidro óptico, ou seja, 1,530, que não mais é usado. Este índice é usado para cálculo das curvas dos moldes dos laboratórios, dos calibradores de contraste, dos esferômetros, dos geradores de curvas etc. Somente poderíamos usa-las (com uma razoável aproximação) caso hipoteticamente usássemos vidro de índice 1,530, espessura central zero e o que não é mais possível hoje em dia, e assim mesmo desprezando-se o fator do índice de refração e a espessura central.

Os leitores poderiam perguntar: Porque não se usa o índice do vidro óptico atual, ou mesmo da resina?  Difícil seria escolher um dos índices devido ao avanço da tecnologia que a cada dia cria um novo material com índices diferentes. Hoje em dia temos muitos diferentes índices de refração e tudo indica que este número aumentará.

Conclusão: o melhor é ficar com o 1,530 porque as máquinas, calibradores, esferômetros, moldes, tornos retificadores, todos usam o índice 1,530 como base e não seria prático troca-los para cada novo índice lançado no mercado. Temos que escolher um índice para os nossos moldes e o melhor é ficaremos mesmo com o 1,530, por razões óbvias e práticas.

Obs.. Com a tecnologia moderna de surfaçagem computadorizada estes cálculos não são utilizados pelo surfaçagista, pois a computação é preparada para torna-lós práticos e simples.

Alguns importantes tópicos

* CURVA MARCADA é a designação nominal das curvas dos moldes dos laboratórios, calibradores, esferômetros etc. Todas estas curvas são calculadas e tornadas de uso prático na grande maioria dos laboratórios de fabricação de lentes especiais, conhecido como Laboratório RX.

* CURVA REAL OU VERDADEIRA que alguns brasileiros vem chamando-a de "curva real". Trata-se de uma curva que é calculada em função do índice do material da lente que se está calculando a curva. Somente este tipo de curva poderá ser usado nos cálculos matemáticos que exporemos mais adiante. Caso seja usada a curva do laboratório, erros aparecerão sem que o aluno possa entender.

* CURVA NOMINAL a curva impressa nos envelopes dos blocos de resina meio trabalhados, assim como: monofocais, bifocais ou progressivos. Esta curva é chamada de curva nominal e é diferente da curva marcada e da curva verdadeira (real). As curvas nominais dos blocos meio trabalhados se apresentam como 4,00 - 5,00 -6,00 etc. Na verdade elas são compensadas para aproximadamente 3,94 - 4,95 - 5,92 etc., de modo que ao usarmos os moldes de laboratórios, côncavos, para surfaçagem do segundo lado, com curvas exatas, sejam obtidas dioptrias exatas, de modo prático.

* RAIO DE CURVATURA Para usarmos as fórmulas matemáticas deveremos utilizar os valores numéricos das curvas verdadeiras (real) em dioptrias de um determinado raio de curvatura. Estas curvas reais são calculadas em função do seu índice de refração. Como exemplo, citamos um único raio de curvatura - 88.33 mm. Que, de acordo com o índice do material da lentes que iremos calcular, terá diversas designações dióptricas (para serem usadas nas fórmulas matemáticas), como segue:
 
 
 
Como vimos acima, o mesmo raio de curvatura tem designações dióptricas diferentes, de acordo com seu índice de refração. Estas são as curvas que poderão ser usadas nas fórmulas matemáticas que vamos expor. Feito este esclarecimento fundamental, passemos agora à representação dos raios em relação às curvas.
 

Conversão de Raio em Diop. e Diop. em Raio
 
 
 
 
Exemplo 1: Qual o poder dióptrico real (verdadeiro) de uma curva com raio de 88,33 mm., considerando que o índice do material é 1,523, ou seja, cristal comum?
 
 
 
Observe que 0,523 foi convertido de metros para milímetro, o que nos indicará 523 no numerador. 
Obs. Esta curva dióptrica será usada nas fórmulas matemáticas para cálculo da curva exata, quando o índice do material a ser usado for 1.523.

Exemplo 2: Qual o raio de curvatura de uma superfície cujo valor dióptrico verdadeiro é 7,925 diop. e o índice utilizado foi de 1,700 - titânio?

 
 
Observem que em ambos os exemplos (no numerador), convertemos o índice de metros para milímetros. É necessário.
 
 
 
Exemplos: 

1- Qual a curva convexa (D1) verdadeira para uma lente esférica +2,00 diop. cuja curva verdadeira côncava (D2) tem - 5,92 diop., cujo raio de curvatura é 88,33 mm., (que corresponde à curva dos moldes do laboratório de -6,00 diop.),sendo seu índice de refração 1,523 e sua espessura central é de 3.2mm.?
 
 
Significa que para que a lente esf. +2,00 com espessura central de 3,2mm e índice de refração 1,523, fosse fabricada com absoluta exatidão, teríamos que usar uma curva convexa (do laboratório) com +7,89 diop.. Como no laboratório temos somente os moldes divididos em 0,12 diop., teremos que aproximar a curva para 7,87 D. o que significa que a lente terá -0,02 diop. de diferença prevista, ou seja, +1,98 ao invés de +2,00. Mas é o possível, que podemos ter na prática da óptica e é uma diferença prevista aceitável.

 
 
NEY DIAS
PROFESSOR DE ÓPTICA
Fonte:
Ney Dias

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sebastiao romualdo - 25/Jun/2021 às 20:06h
simplesmente muito bom, principalmente para pessoas como eu que esta tentando obter certificado de optometria.
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