Quero convidá-los ao estudo sobre visão de cores, cones e bastonetes, passo a passo, que trará mais informações, envolvendo outras estruturas, que permitirá conhecer um pouco mais do mecanismo da visão e do sistema visual.
Conhecer os mecanismos da percepção da cor tem sido alvo de estudos dos profissionais da área da saúde.
Minha proposta é trazer um pouco do conhecimento aos leitores, dividindo-o em partes.
Mas, antes de qualquer informação teórica, gostaria de expor o caso de uma paciente que relatava acromatopsia. Essa paciente me fez entender o grau de dificuldade em seu cotidiano com a visão em tons de cinza.
Ela dizia que havia perdido a aptidão de enxergar cores, acromatopsia, e que segundo seu esposo, médico, ela havia entendido e se conformado com a idéia de nunca mais poder perceber cores novamente.
Quando lhe perguntei sobre como era enxergar em preto e branco ela disse que uma de suas dificuldades era não poder mais escolher o que iria vestir sem a opinião final de outra pessoa, as peças podiam não estar combinando, e ela tinha receio de sair à rua vestindo algo discrepante.
Outra dificuldade que relatou era na hora de escolher o que comer em um restaurante, por exemplo, como tudo era cinza, muitas vezes colocava doce e salgados no mesmo prato, e só depois de degustar ou mesmo na hora da pesagem, pela expressão de incompreensão dos funcionários do restaurante, é que percebia a confusão que havia feito.
Logicamente tentava, a duras penas, se adaptar a essa nova condição visual.
Vamos entender um pouco sobre a luz e a visão.
A luz, após atravessar as lentes do olho, da córnea ao corpo vítreo, chega à retina, atravessa as suas camadas atingindo a camada nuclear externa, onde estão os cones e bastonetes. Os cones nos permitem enxergar na presença da luz e os bastonetes em ambientes mais escuros. Os cones se concentram mais na fóvea, na região da mácula, responsável por maior agudeza visual, pela visão fotoptica, maior percepção na luz e cores, já os bastonetes pela visão escotópica, penumbra, concentram-se mais na região periférica da retina.
Segundo Lent, 2005, os cones não tem muita sensibilidade à luz, mas conseguem detectar faixas estreitas de comprimentos de onda e isso é o que possibilita a visão de cores. Também em seu capítulo 9, página 273, "A luz como forma de energia", deixa claro que a luz propaga-se em ondas e que os fótons realizam curva senoidal em sua trajetória vibratória, determinando, assim, a amplitude e o comprimento de onda. A amplitude é a quantidade de energia em uma radiação e o comprimento de onda, é a distância entre dois pontos da curva senoidal (homólogos). Para o comprimento de onda, a frequência está relacionada a este em uma proporção inversa, isto é, quanto maior a frequência, menor será o comprimento de onda e consequentemente maior a vibração dos fótons.
Existe todo um trabalho dos músculos extrínsecos e intrínsecos oculares no posicionamento ocular, ajuste da acomodação e controle da abertura pupilar para que a imagem seja jogada diretamente na fóvea e para que a melhor acuidade ocorra.
Imagine que a luz ao atravessar as lentes do olho, todas as camadas da retina, seus vários tecidos, após passar por essas "barreiras" em sua trajetória ainda chega à fóvea. Mas, existem alguns ajustes naturais que tentam minimizar a perda da acuidade visual.
Guyton, 1993, informa que a luz ao atravessar o sistema de lentes naturais do olho e as camadas da retina, as "barreiras teciduais heterogêneas", encontra uma "facilidade" na região central da retina onde suas camadas iniciais são naturalmente afastadas para a lateral, evitando-se assim, maior perda da acuidade visual.
As linhas exclusivas são outras formas de poupar a perda da acuidade visual, relatado por Lent, 2005, informa que cada cone se conecta a uma ou poucas células bipolares, sendo que as células bipolares se conectam a poucas células ganglionares (linhas exclusivas), havendo a transmissão da informação vindo da fóvea, de um único cone, dando exclusividade a cada cone em sua transmissão de informação ao nervo óptico, cerca de 0,005 graus de ângulo visual.
Continuaremos nossos estudos nos próximos capítulos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LENT, R.. Cem Bilhões de Neurônios. Visão das Coisas, Estrutura e Função do Sistema Visual. Atheneu. Pg.273, 276, 283 e 284. 2005.
GUYTON, A.C.. Neurociência Básica, Anatomia e Fisiologia, O Olho, II. Funções Receptora e Neural da Retina. Guanabara Koogan. 2ª. Edição. Pg. 138, 139. 1993.